O Presidente da República (PR), José Maria Neves, reconheceu hoje os ganhos alcançados pelo país ao longo desses 48 anos de independência e 32 de democracia, mas defendeu que é necessário um outro patamar de desenvolvimento espiritual.
Durante o seu discurso, por ocasião da sessão solene comemorativa do 48º aniversário da Independência Nacional, que se assinala hoje, o Chefe de Estado disse que o dia de hoje constitui um momento de “orgulho” e de celebração sendo que é o marco maior da história da nação crioula.
Segundo o PR, o retrato do país hoje é bem diferente de há 38 anos, pelo que Cabo Verde se tornou num país de rendimento médio/baixo e ambiciona alcançar patamares mais elevados, instaurou o estado de direito democrático implantou um poder local que funciona, estabeleceu sólidas parcerias com a União Europeia.
“As conquistas são inegáveis e o crescimento material é visível, porém, para que também seja mais inclusivo e durável, terá que ter, como simetria, um forte crescimento espiritual neste sentido, é motivo de preocupação, o facto de, nos últimos anos, terem aumentado a taxa de pobreza extrema, a insegurança alimentar nas suas diversas vertentes e a desigualdade social”, salientou.
Para José Maria Neves, é particularmente inquietante a constatação de que mais de 51 mil jovens, entre os 15 e 35 anos, estejam tanto sem emprego como fora do sistema de ensino ou formação, o que representa 29,2% do total da juventude nesta faixa etária, situação essa que, segundo o mesmo, constitui motivo de elevada preocupação.
“Os 48 anos de independência e os 32 anos de democracia exigem um outro patamar de desenvolvimento espiritual, com efeito, deste ponto de vista, o déficit é enorme, pelo que temos ainda de encetar um forte crescimento, como uma questão cultural e de mentalidade. Necessitamos de outros hábitos mentais, outros costumes, não sendo, pois, apenas uma mudança na lei”, defendeu.
Conforme o Chefe de Estado cabo-verdiano, a questão de incivilidades é “preocupante”, a destruição do património público é uma realidade que “a todos envergonham”, o desrespeito pelo que é comum a todos verifica-se tanto a nível material como espiritual e as pessoas mais velhas, os professores, os vizinhos, os colegas de escola e de trabalho, os outros, afinal, nem sempre têm sido alvo do devido respeito.
Na mesma linha, manifestou-se também preocupado com a os níveis de violência e de insegurança particularmente nos maiores centros urbanos e com a persistência da partidarização da administração pública, para além de ser muito centralizada, com todas as decisões, mesmo as mais corriqueiras.
“Sendo assim, torna-se premente resgatar os valores republicanos associados à cultura de excelência, ao mérito, ao altruísmo e à generosidade, há que recuperar a cultura do trabalho e da produtividade, e o orgulho de fazer as coisas bem-feitas, o certo é a promoção de carreiras, com recrutamento mediante concurso, com as pessoas a serem promovidas com base no mérito e no desempenho. Todos devem sentir que são iguais perante a lei e na vida de todos os dias”, apontou.
Durante o seu discurso, defendeu ainda que a credibilidade e a legitimidade de relatórios produzidos, a sua aceitação por todos, principalmente, se a sua publicação for tempestiva e não diferida no tempo e com coerência, não se pode embasar práticas que, em circunstâncias anteriores, foram combatidas ou criticadas.
“Encorajamos a cultura de responsabilização, todos nós prezamos a vida, que é o bem mais caro. Quando há perdas de vidas humanas, e nas circunstâncias que têm ocorrido ultimamente, há que investigar, buscar a verdade, sem a omitir ou sepultar. Será sempre motivo de desapontamento se ninguém for responsabilizado e tudo ficar na mesma. O destino ou o azar não podem explicar tudo”, sublinhou.
No seu entender, as instituições da República apresentam fragilidades, demandam de cuidados, a democracia está ainda longe de ser perfeita, daí a necessidade de democratizá-la um pouco mais.
“A cidadania vive castrada e receosa expressando-se de forma acanhada, a sociedade civil continua espremida entre as tenazes das forças partidárias, o lugar de fala tem sido um reduto quase de exclusividade do poder político”, são alguns dos aspectos que foram ainda apontados pelo Presidente da República como motivos de preocupação.
Apesar das frustrações e de algum desencanto democrático, salientou que o caminho passa por revitalizá-la, renová-la, aperfeiçoá-la e defendê-la com veemência de modo a evitar que ela se afunda.
A sessão solene comemorativa do 48º aniversário da Independência Nacional, contou também com a intervenção do deputado da UCID António Monteiro, dos líderes das bancadas do PAICV e do MpD, João Baptista Pereira e Paulo Veiga, respectivamente, e do presidente da Assembleia Nacional, Austelino Correia.
Por: Inforpress