O consumo de álcool e drogas e a gravidez precoce são os principais problemas de saúde dos adolescentes cabo-verdianos, que registam também significativa incidência de infecções sexualmente transmissíveis e queixas de violência e bullying.
O diagnóstico foi traçado no âmbito da preparação do Plano de Acção da Saúde do Adolescente 2015-2020, que esteve em debate na cidade da Praia.
«Os maiores problemas estão ligados aos consumos de álcool e outras drogas, à gravidez na adolescência e também às relações sexuais desprotegidas», disse aos jornalistas Belmira Miranda, coordenadora do plano.
Aborto inseguro, violência familiar, bullying e outros tipos de violência entre pares foram também identificados no diagnóstico que serviu de base ao plano, a implementar a nível nacional e com o envolvimento dos próprios adolescentes.
«Vamos trabalhar na redução desses problemas. Vamos incluir os próprios adolescentes, trabalhando as suas competências sociais e emocionais e também as competências parentais», disse a responsável.
Belmira Miranda adiantou também que uma das queixas recolhidas está relacionada com a falta de diálogo entre pais e filhos sobre as questões da sexualidade.
De todos os problemas identificados, Belmira Miranda apontou como os mais urgentes de resolver os consumos de álcool e drogas e a gravidez na adolescência.
O plano envolve vários serviços dos ministérios da Saúde e da Educação, Inclusão e Família, parceiros internacionais como as Nações Unidas, autarquias e organizações da sociedade.
Entre as medidas a desenvolver está a realização, em colaboração com as universidades, do primeiro estudo qualitativo e quantitativo sobre a saúde dos adolescentes em Cabo Verde, que deverá avançar no próximo ano.
É que, segundo Belmira Miranda, apesar do diagnóstico agora feito, a informação sobre a saúde dos adolescentes em Cabo Verde é ainda escassa.
«Prevemos a elaboração de vários estudos em áreas específicas para sabermos a fundo as questões que tocam os adolescentes. Ainda temos poucos estudos que nos possam trazer informações mais claras sobre essa população», disse.
Dados de um estudo recente promovido pela Associação Cabo-Verdiana de Proteção da Família (VERDEFAM), em parceria com o Governo e com o apoio do Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP), revelaram que mais de metade dos adolescentes e jovens cabo-verdianos inicia a vida sexual antes dos 16 anos e, apesar de revelarem conhecimento de métodos contracetivos tradicionais, as percentagens de uso são baixas.
O estudo, realizado junto de 1.093 inquiridos de cinco ilhas e 17 concelhos, revelava ainda que 15,9% das raparigas inquiridas já tinham engravidado, 9,6% uma vez e 6,2% duas vezes, sendo que 52,2% engravidaram sem querer e 32,2% de forma intencional.
No mesmo estudo, 30% dos inquiridos afirmou ter feito sexo sob o efeito de drogas e álcool e 31% disse ter tido mais de dois parceiros no último ano, sendo que estas práticas não são valorizadas como comportamentos de risco.
Fonte: Lusa