Associação de pais em Cabo Verde nota “constrangimentos” no ensino à distância

823

O presidente de uma associação de pais e encarregados de educação em Cabo Verde notou hoje “muitos constrangimentos” no arranque do ensino à distância no país, devido ao novo coronavírus, mas pediu “esforço” para incluir todos os alunos.

“Ainda existem muitos constrangimentos”, disse António Gomes Moreira, presidente da Associação de Pais e Encarregados de Educação de São Domingos, concelho da ilha de Santiago que faz fronteira com a cidade da Praia, a capital de Cabo Verde. 

Em declarações à agência Lusa, o também professor recordou que na semana passada foi iniciado o processo de contacto dos alunos e famílias para o levantamento das condições para acompanhamento das aulas, mas as escolas e os professores não conseguiram chegar a muitos discentes.

No primeiro dia de aulas, na segunda-feira, o representante de pais e encarregados de educação avançou que muitos alunos do primeiro ciclo do ensino básico (1.º ao 4.º anos) conseguiram acompanhar, enquanto outros não tiveram acesso, por falta de Internet e, mesmo tento televisor em casa, não têm acesso às emissões da televisão pública. 

Mesmo com esses constrangimentos, António Gomes Moreira apelou a todos os pais e encarregados de educação para fazerem um “esforço” no sentido de incluir os seus filhos neste processo, seguindo o lema do Ministério da Educação, de “não deixar ninguém para trás”. 

No caso de São Domingos, um concelho rural, com zonas distantes e cerca de 14 mil habitantes, o presidente da associação referiu ainda que há zonas sem cobertura da rede elétrica. 

António Gomes Moreira sublinhou que este ensino não conta para avaliação, mas sim para tentar ocupar os alunos e manter contacto com os conteúdos e com os professores. 

“Neste caso, ficamos mais tranquilos, pelo facto de os alunos que, provavelmente, não estão incluídos, não serem penalizados na avaliação, mas por outro ficamos preocupados porque por direito todos os alunos devem ser incluídos”, explicou. 

O presidente da associação de pais de um agrupamento com 2.421 alunos afirmou ser claramente contra esta modalidade de ensino contar para avaliação dos alunos. 

O Ministério da Educação está a implementar um programa educativo denominado “Aprender e estudar em casa”, alternativa ao encerramento das escolas cabo-verdianas desde 20 de março, para impedir a transmissão do novo coronavírus no arquipélago. 

O ministério explicou que desenvolveu o programa para que os estudantes possam manter o vínculo com o meio educativo e o contacto com os docentes e os conteúdos de ensino e aprendizagem, enquanto estão em casa. 

O plano prevê a produção de 620 conteúdos em televisão e rádio, de 20 minutos cada, abrangendo do 1.º ao 12.º ano, de forma gradual, que serão transmitidos através dos canais de televisão – TCV e canais da Green Studio, no canal aberto e na ZAP –, e na rádio: Radio Educativa, RCV e Rádios Comunitárias. 

Numa nota, o Ministério da Educação admitiu que nem todos os agregados familiares podem ter acesso aos instrumentos que permitam aos educandos ter contacto com estes materiais, explicando que está em curso, por parte dos docentes, a elaboração de materiais em papel, fichas de exercícios que as escolas farão chegar aos alunos, “para que ninguém fique para trás”. 

Em Cabo Verde, estão matriculados para o ano letivo 2019-2020 um total de 12 mil crianças na educação pré-escolar, 114.883 na educação escolar pública, sendo 83.499 no ensino básico obrigatório (1.º ao 8.º ano) e 30.096 no ensino secundário (9.º ao 12.º). 

Por: Lusa