O governador do Banco de Cabo Verde (BCV), Óscar Santos, anunciou hoje que prevê uma redução da inflação em 2023 e 2024, bem como um crescimento económico, este ano, de 4,1%.

“Espera-se que a taxa média anual [da inflação] se reduza gradualmente, de 8% em 2022 para 4,9% e 2,2% em 2023 e 2024, respetivamente. Para esta evolução concorrem a esperada redução dos preços da componente energética, explicado pelos efeitos de base descendentes e pela expetativa de queda dos preços das matérias-primas energéticas nos próximos meses”, disse Óscar Santos, ao apresentar hoje, na sede do banco central, na Praia, as principais conclusões e decisões do Relatório de Política Monetária de abril.

Acrescentou que a resolução gradual dos “estrangulamentos da oferta” e das pressões sobre os custos de produção e o “aperto da política monetária e das condições de financiamento”, admitiu, “poderão contribuir para a queda dos preços em 2023 e 2024”.

Os preços em Cabo Verde já caíram 0,4% no mês de março, face a fevereiro, mas acumulam uma subida de 5,6% no espaço de um ano, indicam dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) cabo-verdiano.

De acordo com o mais recente Índice de Preços no Consumidor (IPC), elaborado pelo INE, a taxa de variação homóloga desacelerou em março 1,7 pontos percentuais, face ao registo no mês anterior, enquanto a variação mensal caiu 1,1 pontos percentuais.

O Governo previa que a escalada de preços em Cabo Verde deveria fechar 2022 com um aumento médio global de quase 8%, reduzindo-se para menos de metade este ano.

Nos documentos de suporte à proposta de lei do Orçamento do Estado para 2023, o Governo cabo-verdiano admite que “os níveis de preços deverão permanecer elevados, acelerando de 1,9% em 2021 para 7,9% em 2022”, o valor mais alto em 25 anos.

“Já para 2023, espera-se que se reduza para 4% [3,7%, segundo o detalhe da proposta], refletindo a redução da inflação importada dos principais parceiros comerciais de Cabo Verde”, lê-se no documento.

Antes dos efeitos da crise inflacionista atual e apesar da pandemia de covid-19, Cabo Verde registou uma taxa de inflação mínima histórica de 0,6% em 2020, e de 0,8% em 2017.

Óscar Santos explicou igualmente que, na mais recente previsão para 2023, o BCV prevê um crescimento de 4,1% do Produto Interno Bruto (PIB), “condicionado pela desaceleração do crescimento mundial”.

No final do ano passado, na apresentação das conclusões do Relatório de Política Monetária de outubro, o BCV estimou para 2023 um crescimento do PIB, em volume, “em torno dos 5%”, influenciado pelas “consequências económicas da guerra na Ucrânia”, pelo “agravamento da crise energética na Europa” bem como face ao “aperto das condições de financiamento”, com reflexo “num forte abrandamento da atividade económica nacional”.

Já hoje, na apresentação do Relatório de Política Monetária de abril, o governador salientou que “o desempenho da economia mundial para 2023 está condicionado pela desaceleração do crescimento mundial, pelos níveis ainda elevados da inflação, pelo aperto das condições de financiamento”, além da “retirada gradual das medidas orçamentais implementadas para minimizar os efeitos dos elevados preços da energia e dos produtos alimentares de primeira necessidade”.

Destacou igualmente a evolução do défice da balança corrente, que atingiu 3,4% do PIB em 2022, face aos 11,8% em 2021, “para a qual concorreram, sobretudo, os aumentos registados nas exportações de serviços de viagens de turismo e de transportes aéreos, nas reexportações de combustíveis e víveres nos portos e aeroportos nacionais”, bem como o aumento de 11,6% nas remessas enviadas pelos emigrantes cabo-verdianos.

Segundo o governador do BCV, as Reservas Internacionais Líquidas (RIL) – em divisas, necessárias para a importação de bens e serviços – situaram-se num nível “confortável em 2022”, cobrindo seis meses de importações de bens e serviços, considerado adequado para a manutenção da estabilidade do regime cambial de ‘peg’ fixo entre o escudo cabo-verdiano e o euro.

Cabo Verde recupera de uma profunda crise económica e financeira, decorrente da forte quebra na procura turística – setor que garante 25% do Produto Interno Bruto (PIB) do arquipélago – desde março de 2020, devido à pandemia de covid-19. Em 2020, registou uma recessão económica histórica, equivalente a 14,8% do PIB, seguindo-se um crescimento de 7% em 2021 e 17,7% em 2022, impulsionado pela retoma da procura turística.

Por: Lusa