Cabo-verdianos dizem-se “insatisfeitos” com a qualidade dos serviços de saúde prestados no país

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Os cabo-verdianos estão “insatisfeitos” com a qualidade dos serviços de saúde prestados no país, particularmente, as pessoas com deficiência que dizem sentir-se discriminadas a nível do atendimento e da realização dos exames de diagnóstico.

A afirmação é de um grupo de pessoas entrevistado pela Inforpress na véspera do Dia Mundial da Saúde, que se assinala hoje, 07 de Abril, sob o signo “Saúde Universal: para todos e todas, em todos os lugares” e que este ano se concentra na atenção primária à saúde (APS), equidade e solidariedade.

“A situação da saúde neste país, embora tenha melhorado ao longo dos anos continua sendo preocupante, pois, temos um hospital central com falta de equipamentos de diagnóstico por imagem, de especialistas em várias áreas, sem falar do baixo nível de atendimento”, disse a praiense Salomé Freitas.

Conforme a mesma fonte, o acesso a exames de diagnóstico é “difícil”, pois, o Hospital da Praia “há já muito tempo não possui os equipamentos necessários” para tal, razão porque muitas pessoas têm de fazê-lo no privado, pagando em excesso para os cuidados com a saúde, pois, os trabalhadores nacionais já pagam descontando no seu salário para o INPS.

“Se quisermos um bom atendimento temos de ir ao privado, mas muitos não podem pagar o serviço particular já que o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) não tem qualquer acordo com o privado para pagar o serviço prestado”, prossegue.

Para Gertrudes Cruz, da ilha do Sal, o mais “penoso” é o atendimento em serviços de urgência de hospitais muitas vezes por médicos recém-formados, com “pouca experiência e sem supervisão de um sénior”, o que faz com que a qualidade e a segurança do serviço, muitas vezes, sejam de pior qualidade.

“A situação é tão difícil que nós os pacientes, muitas vezes somos encaminhados de especialistas a especialistas até que um deles descubra realmente o que sentimos, sem que haja ninguém para responsabilizar-se quando somos enviados para casa sem um tratamento adequado e um diagnóstico correcto”, completou.

Na ilha Brava, a Inforpress auscultou a opinião de João Garcia, quem reclamou, também, do problema de atendimento e da qualidade do serviço prestado, porque, no que tange à saúde, “a ilha ainda está aquém do desejado”.

Segundo João Garcia, fala-se de avanços em termos de saúde, mas na realidade esse avanço, considerou, “só está nos números facultados pelo INE” visto que o país, no seu entender, ainda tem muito por fazer no sector.

Saúde universal, para Antónia Neves, da ilha de São Nicolau, significa garantir que todas as pessoas tenham acesso, sem discriminação, a serviços integrais de qualidade, sem enfrentar dificuldades financeiras.

“A saúde universal como está sendo espalhado no mundo, não diz respeito apenas a garantir que todos estejam cobertos, mas que todos tenham acesso a cuidados quando precisarem e onde quer que estejam, o que não acontece neste país”, realçou.

Por seu turno, Naldi Veiga, presidente da Associação Cabo-verdiana de Promoção e Inclusão das Mulheres com Deficiência (APIMUD), continua a reclamar do “descuido” que existe nos serviços de atendimento de saúde para com as pessoas com deficiência e o pagamento das taxas quando a Constituição e as convenções ratificadas pelo Governo isentam as pessoas com deficiência.

“Ainda há muita coisa a melhorar no sector da saúde para que todos tenhamos o direito de ser bem atendidos, respondendo ao serviço universal para todos”, enfatizou.

Para que o país possa atingir uma cobertura de saúde de forma a que todos possam ter acesso aos cuidados sem barreiras e sem sofrer sérias dificuldades financeiras, o vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças, Olavo Correia e Silva, defendeu no II Fórum Africano de Saúde que o arquipélago necessita “urgentemente” de abrir o sistema de saúde ao sector privado.

Tudo isso, para que todas as pessoas, onde quer que vivam, tenham cobertura de saúde e possam ter acesso aos cuidados sem barreiras e sem sofrer sérias dificuldades financeiras.

A atenção primária à saúde, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é a base para se alcançar a saúde universal, e cinge a uma abordagem que envolve serviços de saúde integrados e de qualidade, com foco na promoção, prevenção, tratamento, cura e reabilitação.

Ainda a OMS, alcançar a saúde universal requer a transformação de sistemas de saúde, um número suficiente de profissionais treinados e bem distribuídos e a disponibilidade de medicamentos e tecnologias acessíveis.

Em África, segundo a directora Regional da OMS, a recorrência dos principais eventos de saúde pública – ocorreram mais de 100 em 2018 – significa que não pode haver segurança sanitária sem Cobertura Universal de Saúde (CUS), e CUS sem segurança sanitária.

“O reforço dos sistemas de saúde para alcançar a CUS é um dos instrumentos chave para a mudança proposta pela Agenda 2030, que implica integração da boa governação, financiamento adequado, profissionais de saúde qualificados e motivados, acesso a medicamentos e produtos de saúde de qualidade, sistemas de informação sanitária funcionais e sistemas de prestação de serviços centrados nas pessoas”, lê-se na mensagem da directora Regional da OMS.

Em 2019, o Dia Mundial da Saúde, que é celebrado todos os anos a 07 de Abril, marca o fim das celebrações do 70º aniversário da Organização Mundial da Saúde.

Por: Inforpress