A Casa Manuela Irgher, abrigo de mulheres em situação de extrema vulnerabilidade, em Cabo Verde, conseguiu em 2023 o que nunca tinha alcançado em 15 anos de atividade, duplicar a capacidade de alojamento após atingir a lotação máxima.
“Neste momento temos 24 camas e seis berços, uma capacidade máxima para 30 acolhimentos”, entre mulheres, mães e filhos, referiu à Lusa Cristina Melo, gestora da Casa Manuela Irgher, situada em Pedra Badejo, cidade da costa leste da ilha de Santiago.
O número torna-se relevante depois de a casa ter estado lotada, em 2022, numa ilha com cerca de 250 mil habitantes, metade da população do arquipélago.
A ampliação e remodelação do espaço foi possível graças aos fundos arrecadados pela casa e ao apoio da Cooperação Espanhola.
“No ano passado, recebemos mais mães e adolescentes, chegando a ter 27 pessoas, incluindo filhos, a residirem na casa. Ultrapassámos, na altura, a capacidade máxima”, que era de 15 pessoas, acrescentou a gestora.
Além da falta de espaço e conforto, ao ultrapassar a lotação, a casa enfrentou também dificuldades financeiras, atualmente atenuadas com doações e venda de peças feitas pelas utentes (quadros, bijuterias, velas aromáticas, sabonetes, arranjos florais e decorativos).
A instituição acolhe atualmente 16 mulheres com diferentes perfis: há quatro mães, das quais “apenas uma é maior de idade”, várias vítimas de violência baseada no género (VBG), abandono familiar, pobreza extrema e abusos — a casa recebe casos de abuso sexual desde 2021.
As portas estão abertas a jovens mulheres de todo o arquipélago e o número varia bastante, refere Cristina Melo.
As vítimas de VBG, por exemplo, são acolhidas num regime emergencial, com permanência a rondar entre uma semana a um mês.
Pessoas em situação de vulnerabilidade podem ficar alojadas durante um ano, para depois regressarem às suas comunidades — ou, no caso de menores, até decisão judicial ou do Instituto da Criança e do Adolescente (ICCA).
Em julho, depois de concluídas as obras de ampliação, passaram a estar disponíveis para acolher novos casos e a maioria “tem sido menores e vítimas de VBG em situação emergencial”, sete mulheres, incluindo duas menores, referiu.
As mulheres têm procurado a instituição para acolhimento, outras são encaminhadas através de denúncia de terceiros ou seguimento por instituições públicas como o ICCA, delegacias de saúde, polícia, ministério público e municípios.
Na casa, todas têm tarefas diárias, seja na gestão do espaço – limpeza diária, cuidados de roupa, dos animais, da horta ou cozinha -, seja na elaboração de peças artesanais para venda, que apoiam o sustento da instituição.
As que ainda se encontram em idade escolar são reinseridas na escola e apoiadas na continuidade dos estudos.
As maiores de idade são encaminhadas para formação profissional numa área para a qual sintam aptidão.
“Num ambiente familiar, aprendem a dividir tarefas e responsabilidades, orientadas para a aprendizagem de cuidados de higiene, limpeza doméstica, cuidados com os filhos, cozinha e pastelaria”, referiu Cristina Melo.
A Casa Manuela Irgher é apoiada pelo município de Santa Cruz, que disponibiliza água, eletricidade e guardas-noturnos, além de a delegacia de saúde local isentar as utentes de taxas moderadoras no acesso a consultas.
“Apesar de ser difícil, vamos sempre conseguindo avançar e estender a nossa ação assentes na fé, no amor ao próximo e firmes no nosso propósito: acolhemos, amamos e fortalecemos”, concluiu.
O nome Manuela Irgher foi dado em homenagem a uma jovem italiana que faleceu vítima de um acidente de viação, no seu país, e cuja memória os quiseram perpetuar, contribuindo com doações para a construção da casa, em 2008.
A iniciativa, em parceria com o município, partiu do padre Ottavio Fasano, da ordem religiosa dos Capuchinhos, e que desenvolve trabalho missionário em Cabo Verde há mais de 50 anos.
Por: Lusa