O chefe do estado-maior das Forças Armadas, Carlos Alberto Fernandes, falou hoje à imprensa cabo-verdiana e assumiu todas as responsabilidades pelo massacre em Monte Tchota, afirmando-se “sem condições moral, emocional e psicológica” para continuar a dirigir a instituição.
Carlos Alberto Fernandes. Foto: Inforpress
Em conferência de imprensa, explicou que aquando do sucedido ele se encontrava em missão de trabalho em Moçambique, mas que no dia seguinte já se encontrava em Cabo Verde, para no dia 29 de Abril, sexta-feira, apresentar a sua demissão ao ministro da Defesa e informar ao Presidente da República, na qualidade do comandante supremo das Forças Armadas, a sua decisão. “Considero-me sem condições moral, emocional e psicológica para continuar a dirigir esta tão nobre instituição, por uma questão de ética, honra, prestígio e bom nome das Forças Armadas, respeito pelo país e pelos familiares das vítimas e por uma questão de dignidade pessoal”, esclareceu. Segundo o major-general, a sua decisão foi precedida pelo “impacto negativo” que o incidente tem gerado junto da sociedade cabo-verdiana e com dimensão internacional, tendo em consideração a perda de 11 seres humanos, sendo oito militares e três civis e pelo “sofrimento impingido” aos familiares das vítimas e à nação cabo-verdiana. “Ainda comunico à nação que está em curso um inquérito para apuramento de eventuais responsabilidades internas e que será concluído no prazo de 15 dias”, disse o chefe do estado-maior das Forças Armadas, demissionário, que esteve na conferência de imprensa acompanhado dos principais colaboradores, nomeadamente os comandantes da Logística, da Guarda Nacional, do Pessoal e do Inspector das Forças Armadas. Conforme explicou, o comandante da Guarda Nacional, que tem sob a sua tutela o destacamento militar de Monte Tchota, através do comando da terceira região militar, também já apresentou o seu pedido de demissão, assim como o comandante do Pessoal e da Logística já manifestaram a mesma intenção. O chefe do estado-maior das Forças Armadas (CEMFA) demissionário pediu ainda à sociedade que não julgue a instituição, as Forças Armadas, pelo massacre ocorrido em Monte Tchota. Carlos Alberto Fernandes pediu desculpas à nação, aos familiares das vítimas e ao governo do Reino da Espanha, em seu nome pessoal e no das Forças Armadas, certificando que só estando unidos será possível ultrapassar “esta fase menos boa” da vida do país e da instituição. “O jovem soldado, de nome Manuel António Silva Ribeiro, conhecido por Antany, já se mostrou arrependido e já disse que se fosse hoje não cometeria tal acto”, apontou, explicando que a investigação está a decorrer, visto que o soldado é a única pessoa capaz de esclarecer o sucedido, indicou. O trágico incidente ocorreu no destacamento militar de Monte Tchota, concelho de São Domingos, sendo que dois dos civis eram de nacionalidade espanhola. Os oito soldados foram assassinados na madrugada de domingo para segunda-feira, e os civis que prestavam serviços nas antenas do centro de telecomunicações, foram alvejados a meio da manhã de segunda-feira, 25 Abril, quando se deslocaram ao local. Antany, de 23 anos e natural da ilha do Fogo, foi detido pouco mais de 48 horas após o sucedido, por elementos da Polícia Militar e da Polícia Judiciária no bairro da Fazenda, Cidade da Praia. Neste momento encontra-se sob a tutela das Forças Armadas. Fonte: Inforpress