O comandante da 1ª Região Militar disse hoje não entender que um preso na cadeia tenha uma alimentação superior ao soldado e nem o facto de se construir, em Cabo Verde, uma prisão de 3,5 milhões de dólares.
O tenente-coronel graduado José Rui Neves, que discursava, no Comando da 1ª Região Militar, no Mindelo, na cerimónia oficial da celebração do 51ª aniversário das Forças Armadas (FA), foi mais longe e considerou ser “contraproducente” falar do combate à delinquência, quando se constrói uma prisão naquele montante, “com salas de conferências, oficinas, lavandaria e cozinha industrial”, condições, aludiu, que “não existem” em “nenhum Comando Militar”.
“Essas decisões em nada contribuem para o cultivo do espírito de sacrifício e amor à Pátria”, reforçou a mesma fonte, valores, sintetizou, que “sabiamente” foram passados “de geração em geração” na “formação e construção” da identidade do militar cabo-verdiano.
Perante entidades como o presidente da Câmara Municipal de São Vicente, Augusto Neves, de combatentes da Liberdade da Pátria como Pedro Pires e Silvino da Luz, entre outros, e do bispo da diocese do Mindelo, Dom Ildo Fortes, o comandante da 1ª Região Militar lembrou que a última actualização salarial na FA ocorreu em Agosto de 1997, com a introdução do Plano de Cargos Carreiras e Salários.
“Desde então, com paciência de Jó, estamos à espera de melhores dias”, ajuntou a mesma fonte.
Mesmo assim, o tenente-coronel José Rui Neves, que iniciou o seu discurso com uma citação de Napoleão Bonaparte, militar e estadista francês, segundo a qual “um homem que não tem consideração pelas necessidades do saldo nunca o devia comandar”, precisou que neste 51 anos da instituição militar a tropa tem estado na linha de “todas as batalhas”, lado a lado com o povo de Cabo Verde, “sempre prontos e disponíveis”, 24 horas por dia, sete dias por semana.
“Os cabo-verdianos orgulham-se e confiam nos seus militares. E na celebração de mais um aniversário, redobramos o compromisso de nunca trair essa confiança”, lançou o comandante, que deixou ainda palavras de apreço aos trabalhadores civis das FA, antes de concluir o seu discurso com o ritual solene dos actos de juramento à bandeira.
Na mesma cerimónia, ao comandante da Guarda Costeira, que a presidiu, capitão de navio Pedro Santana, coube ler a mensagem do chefe do Estado Maior das FA alusiva à comemoração, pejada de palavras de agradecimento e de louvor aos que servem hoje a instituição, como também ao núcleo fundador que, em 1967, prestou juramente perante Amílcar Cabral.
Na mensagem, o chefe do Estado Maior das FA refere que a data deve r constituir ocasião de festa, mas também de reflexão sobre o percurso e o futuro da instituição militar, neste “momento de viragem” em que “é primordial” o traçar de um caminho “seguro, mas ousado”, capaz de dotar as FA das “condições necessárias” para o seu engrandecimento.
A revisão dos estatutos dos militares é tida, neste sentido, como “diploma estruturante” para trazer “mais dignidade” à carreira militar, mas o chefe do Estado Maior das FA congratula-se, por outro lado, com o que designou de “sinais positivos” que vem sendo dados pelo Governo, no sentido de “melhor equipar e motivar” a tropa.
Major-general Anildo Morais, na sua mensagem, finaliza com a certeza de estar a viver “tempos em que mudanças serão necessárias” nas FA, reconhecendo, por outro lado, todo o trabalho que levou à construção de uma Forças Armadas “sólidas, capazes, republicanas e reconhecidas” como “umas das instituições de maior prestígio” em Cabo Verde.
A celebração do 51º aniversário das FA foi ainda ocasião para a entrega de medalhas de comportamento exemplar de condecorações a um grupo de militares no activo.
Por: Inforpress