É sobejamente conhecido e aceite de que os tradicionais e convencionais instrumentos de política monetária (o redesconto, as reservas obrigatórias e as operações em mercado aberto – que são considerados normalmente para actuar sobre a liquidez bancária), muito utilizados nas economias onde os mercados financeiros são desenvolvidos, não funcionam muito bem nos países com um sistema financeiro pouco desenvolvido.
Para estes últimos, normalmente considera-se os instrumentos como taxas de juro afixadas administrativamente, limites directos ao crédito, orientações de selectividade do crédito, ou rácios financeiros na gestão bancária, que por sua vez são procedimentos administrativos limitadores da actividade bancária. Estes instrumentos são considerados mais eficazes nestes mercados, pois têm efeitos mais directos sobre a economia.
Em Cabo Verde, para além deste pormenor, a política monetária enfrenta ainda a questão que é conhecida no mundo monetário de “Trilema Monetário”. Ou seja, em Cabo Verde existe (i) uma situação de câmbios fixos com a região onde se opera as principais e maiores transacções, quer reais, quer financeiras, (ii) existe praticamente uma perfeita mobilidade de capital, e por fim (iii) uma política monetária “independente”.
Este “Trilema Monetário” acaba por ter um impacto maior em Cabo Verde, uma vez que o sistema financeiro é completamente dominado pelos capitais externos. Ou seja, o sistema financeiro, sobretudo os bancos comerciais, é composto na sua maioria pelos bancos externos. Desta forma, falando sobretudo dos bancos comerciais, dado que são detidos pelos bancos com sede no exterior, acabam por seguir na sua maioria políticas determinadas pela “casa mãe”, deixando pouca margem para as políticas designadas pelo poder monetário, isto é o Banco Central (BCV).
Por outras palavras, os bancos comerciais respondem muito pouco às políticas determinadas pela autoridade monetária, dificultando o cumprimento dos objetivos. Neste caso particular, a designação do aumento do crédito ao setor privado como objetivo secundário acabaria por enfrentar mais dificuldades do que se pode imaginar. Ou seja, não são estas medidas que levarão, por si só, ao aumento dos créditos ao sector privado.
Entretanto, uma coisa é certa, a autoridade monetária já deu sinal sobre a sua orientação política. Isto é, já mostrou que quer preocupar-se com a economia real. O objetivo da criação do emprego está no centro das decisões. A base já está estruturada, mas falta o resto. Para que os bancos sigam as orientações do BCV, é preciso que o setor empresarial esteja também estruturado. Caso contrário ficará tudo na mesma. O que fazer para resolver os problemas do setor empresarial é o tema para outro artigo. Por enquanto a questão que fica é:
Habemus crédito? Haber bamos!
Gilson Pina