José Maria Neves lança fundação para ser “voz activa”, mas não oposição

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O ex-primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, disse que a fundação com o seu nome, que no passado sábado foi lançada na cidade da Praia, será uma “voz activa”, mas não de oposição ao actual Governo, do Movimento para a Democracia (MpD).

O ex-governante do Partido Africano para a Independência de Cabo Verde (PAICV) afastou ainda qualquer ligação entre a criação da instituição e a preparação de uma eventual candidatura presidencial em 2021.

“Vamos acompanhar [a governação], vamos publicar indicadores, vamos fazer debates, mas não na perspectiva de se opor ao Governo, mas de dar elementos e instrumentos para os cidadãos, a sociedade civil e o próprio governo”, disse.

José Maria Neves garantiu, contudo, que a fundação, que tem como missão contribuir para promover a boa governação e o desenvolvimento sustentável, de Cabo Verde, será “uma voz activa” nas questões que têm a ver com a governabilidade e as políticas públicas.

“Será um espaço comum de trabalho onde todos vamos aprender”, disse José Maria Neves, assinalando a intenção de fazer parcerias para promover a criação de observatórios sobre questões como a igualdade de género, políticas ambientais ou políticas de emigração.

“Será uma fundação muito aberta, com grande liberdade de espírito para discutir questões importantes da vida nacional”, sublinhou.

José Maria Neves, que chegou a admitir uma candidatura presidencial nas eleições de 2016, afastou, quando questionado, qualquer ligação entre o lançamento da fundação e o início da caminhada presidencial para 2021.

“Uma fundação não faz campanha, é só para promoção de debates e ideias. Ainda é muito cedo para estarmos a falar em campanhas eleitorais. Quem quer fazer campanha ou candidatar-se cria um movimento, não cria uma fundação”, disse.

A Fundação José Maria Neves para a Governança foi lançada oficialmente no passado sábado, 08, na cidade da Praia, perante uma plateia composta sobretudo por figuras ligadas ao PAICV e aos governos liderados por José Maria Neves.

O lançamento oficial da Fundação encerra uma semana em que José Maria Neves apresentou a nova instituição ao Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, e ao primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, bem como ao dirigente histórico do PAICV Pedro Pires, à actual líder do partido, Janira Hopffer Almada e ao cardeal da Igreja Católica, Arlindo Furtado.

A fundação tem como objectivo promover a democracia, a boa governação e o desenvolvimento sustentável através da realização de conferências, debates, publicações e projectos.

Terá um centro de documentação, e gradualmente pretende-se avançar para a criação de uma escola de governação, de um instituto do ambiente e de uma editora.

Criada com o subsídio de reintegração que recebeu quando deixou a chefia do Governo, a criação da fundação contou e espera continuar a contar, segundo José Maria Neves, com “muito trabalho de voluntariado” e doações, sobretudo de livros e documentação.

Durante a apresentação, José Maria Neves sublinhou que a fundação quer trabalhar com o Governo, Presidência da República, partidos políticos, universidades e organizações não-governamentais.

O ex-primeiro-ministro adiantou que a fundação traduz a vontade de colocar a sua experiência de 15 anos de governo “ao serviço do povo cabo-verdiano para, agora, do lado da cidadania, contribuir para o debate político e para a construção de consensos”

José Maria Neves deixou o Governo de Cabo Verde em Abril de 2016, após 15 anos de maiorias absolutas, e está actualmente a fazer um doutoramento em Políticas Públicas, em Portugal.

Nascido na cidade de Assomada, concelho de Santa Catarina, no dia 28 de Março de 1960, José Maria Neves foi eleito em 2000 presidente da Câmara Municipal de Santa Catarina e nesse mesmo ano ganhou a liderança do PAICV, que deixou em 2014.

Um ano mais tarde foi eleito primeiro-ministro de Cabo Verde.

Fonte: Lusa