Lucros do banco cabo-verdiano BFI caíram quase 28% em 2020

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Os lucros do Banco de Fomento Internacional (BFI), um dos quatro bancos ‘offshore’ que operam em Cabo Verde, caíram praticamente 28% em 2020, segundo o relatório e contas da instituição, ao qual a Lusa teve hoje acesso.

Os dados constam do relatório e contas de 2020 do BFI, recentemente aprovado pelos acionistas, em que o conselho de administração do banco de investimento recorda que se vive “um dos períodos mais difíceis e complexos” da história económica de Cabo Verde, “cujas consequências se mantêm imprevisíveis”.

De acordo com o documento, o banco registou um resultado líquido de 196.121 euros em 2020, uma quebra de 27,95% face ao desemprenho de 2019, que então somou um crescimento de 10% nos lucros, para um total de 16 trabalhadores.

“Em termos muito gerais, esta variação é justificada em cerca de 50% por resultados cambiais e 50% por redução de risco na carteira de crédito, já que os custos de estrutura se mantiverem quase inalterados”, justifica a administração.

O BFI, um dos quatro bancos que operam a partir de Cabo Verde em regime considerado de ‘offshore’ – apenas com clientes não residentes no arquipélago -, que tem o mercado de referência em países como Angola, República do Congo, Gana ou Senegal, fechou 2020 com um ativo líquido de mais de 162 milhões de euros, capitais próprios acima de 14,9 milhões de euros (entre capital, reservas e resultados) e recursos de clientes, incluindo empréstimos, de 70,2 milhões de euros.

Em particular, a margem financeira do banco caiu 7,1%, face a 2019, para 2,9 milhões de euros, “justificado pela redução do volume da carteira de crédito e pressão sofrida ao nível das taxas de juro passivas”, e registou-se ainda uma redução do produto bancário em 15,4%, devido à “geração de resultados de operações cambiais negativos e aumento dos custos com comissões pagas”.

“É certo que os próximos tempos serão desafiantes, mas estamos preparados e motivados para triunfar. Os próximos tempos reservam-nos desafios, porventura tão ou mais difíceis quanto aqueles já ultrapassados. Aproximam-se reptos tão ou mais exigentes que tornarão esta instituição um marco em Cabo Verde. É também nossa responsabilidade contribuir para que este triste período possa dar origem a um futuro melhor, assente em bases consistentes desenhadas a partir dos ensinamentos que o passado nos oferece”, lê-se na mensagem do conselho de administração no relatório e contas.

A estrutura acionista do BFI, à data de 31 de dezembro de 2020, era liderada (49,3%) pelo empresário português José Francisco Casquilho Braz da Silva, cabendo ainda participações a Helena Maria de Saraiva Refoios Braz da Silva e a José Francisco de Saraiva Refoios Braz da Silva, cada um com uma quota de 19,98%.

José Francisco Casquilho Braz da Silva é administrador da África Oil and Gas Corporation (AOGC), segundo informação deste grupo petrolífero da República do Congo.

O BFI anunciou em 25 de junho que o banco central de Cabo Verde autorizou a sua transformação numa instituição de crédito genérica, passando a trabalhar com clientes residentes.

Em comunicado, a instituição, com mais de 18 anos de experiência internacional, “sobretudo no mercado africano e especializado na banca privada e na banca de investimento”, refere que a autorização do Banco de Cabo Verde (BCV) surge “após um prolongado, rigoroso e exigente processo”.

A Lusa noticiou em maio que o banco BIC Cabo Verde (BIC-CV), participado maioritariamente pela empresária angolana Isabel dos Santos, também solicitou a transformação da ‘offshore’ num banco para clientes residentes no arquipélago.

O BIC-CV e o BFI são dois dos quatro bancos que operavam em Cabo Verde em 2020 com autorização restrita, apenas para clientes não residentes e considerados por isso ‘offshore’, regime que, por força da alteração legal aprovado pelo parlamento cabo-verdiano terminaria no final do ano passado, mas que foi estendido pelo Governo por um ano devido à pandemia de covid-19.

O BCV confirmou em dezembro passado que recebeu a deliberação da administração do Banco Privado Internacional, outro desses quatro bancos ‘offshore’, para a sua liquidação e que foi uma decisão voluntária dos acionistas.

O regulador cabo-verdiano explicou que procedeu ao registo da deliberação dos acionistas do Banco Privado Internacional, SA – BPI, Instituição de Crédito de Autorização Restrita (ICAR), que “decidiu pela sua dissolução voluntária e liquidação”.

Além dos quatro bancos com autorização restrita – ainda o caso do português Montepio Geral – funcionam em Cabo Verde mais sete bancos comerciais de licença genérica.

O Governo cabo-verdiano prorrogou por um ano o prazo para encerrar os bancos com autorização restrita, considerados ‘offshore’, obrigando agora à adequação às novas regras até 31 de dezembro de 2021.

O BCV vai poder encerrar compulsivamente, com esta lei, os bancos com autorização restrita que funcionam no país, apenas para clientes não residentes, considerados ‘offshore’, que não se adequem aos novos requisitos.

De acordo com informação reiterada pelo BCV – embora sem identificar quais -, dois dos quatro bancos ICAR solicitaram o alargamento da licença para utilização genérica (Instituições de Crédito de Autorização Genérica – ICAG) ao abrigo da possibilidade aberta na Lei do Orçamento do Estado de 2019.

Por: Lusa