Depois de ter sido deixado de fora dos pré-convocados para o Campeonato Africano das Nações (CAN) o capitão dos Tubarões Azuis, Marco Soares, escreveu uma carta aberta dizendo que sentiu que foi usado como boneco.
O futebolista do 1º de Agosto, de Angola, utilizou o seu perfil no Facebook para mostrar o seu descontentamento por não ter sido incluído na lista dos 30 possíveis seleccionados para o CAN. O jogador afirma ainda que já estava de volta aos relvados há mais de quatro meses e só não regressou a Angola porque o visto foi-lhe negado.
O jogador de 30 anos afirmou que e que era difícil estar nos 23 convocados mas ao menos no lote dos 30 pré-convocados esperava ver o seu nome. “Quando o treinador na conferencia de imprensa falou que era um prémio para todos que fizeram parte da qualificação, e eu pergunto-me a mim mesmo se andei a fazer de boneco?” diz o jogador na carta.
Leia a carta na integra
“Fiquei triste com a minha não convocação nos 30 pré-convocados… Sabia que seria muito difícil entrar nos 23 devido ao que foi a minha época desportiva… Mas ao mesmo tempo Tinha alguma esperança de estar no lote por já estar recuperado da minha lesão e por aquilo que represento para o grupo.
Não foi por acaso que acompanhei os jogos da selecção com a Equipa… Abdiquei inclusive de passar o dia de aniversário da minha filha para estar com a selecção e tentar ajudar no que pudesse. No último jogo eu estava com a selecção e recebi a notícia da morte do meu tio. São por todas estas coisas que estou triste por não estar nos 30 pré-convocados. Muito mais quando o treinador na conferência falou que era um prémio para todos os que fizeram parte da qualificação.
E eu pergunto-me a mim mesmo se andei a fazer de boneco??? Acerca da minha recuperação, eu a partir dos 4 meses comecei a fazer trabalho de campo, vou com 8 meses de recuperação o que quer dizer que estou a treinar no campo faz 4 meses e só não voltei para Angola para integrar o trabalho com a minha equipa devido a problemas com o visto porque se assim não fosse eu ainda tinha voltado a jogar esta época. Pedi autorização para treinar com uma Equipa em Portugal mas foi-me negado pelo meu clube, entretanto terminou o campeonato em Angola.
O último estágio da selecção já treinei com os meus companheiros sem qualquer limitação, voltei a fazer um pedido para treinar com um equipa em Portugal ao meu clube e estou agora na segunda semana de treinos com o Estoril com esperanças de poder estar presente no CAN sempre sabendo que era difícil mas a fazer o máximo possível para ser útil.
Andei 4 meses a treinar sozinho todos os dias debaixo de frio, chuva volto a repetir sozinho e todos os dias. Acompanhado pelo Fisioterapeuta João Coito e pelo recuperar físico David Rosa (um muito obrigado do fundo do coração para vocês) tudo a pensar somente na selecção em estar bom para tentar estar no lote de convocados porque sei que sou importante para o grupo.
Neste momento treino diariamente com o Estoril e completamente sem limitações nenhumas, sabia que seria difícil estar no CAN mas tudo fiz que estava ao meu alcance para poder ser útil a selecção.
A pergunta que faço é será que eles quando fizeram os 30 pré-convocados levaram pelo menos isso em conta? Tiveram consideração por aquilo que sou na selecção pelos anos que tenho de selecção e por todo o esforço que fiz não só por mim mas também por eles (selecção de Cabo Verde).
Muito obrigado a todo o povo cabo-verdiano por todo o carinho respeito e apoio que me tem dado, são gestos destes que nos deixam cada vez mais fortes e de cabeça levantada, e foi por este povo que com 21 anos abdiquei da hipótese de jogar por Portugal para representar Cabo Verde, vocês são a nossa força.
Mas o mais importante de tudo isto é Cabo Verde por isso esqueçamos o Marco Soares e vamos todos nos unir em passar força positiva para os nossos jogadores para fazerem um excelente CAN e mais uma vez deixarem todos nós orgulhosos de ter nascido cabo-verdiano. Todos juntos seremos sempre mais fortes.
Aos meu colegas o que digo e peço é para mantermos a união de grupo e o comprometimento que temos como equipa porque isso vale mais do que o individual de cada 1. E se assim for de certeza que vamos fazer uma excelente prestação no CAN e vamos elevar uma vez mais o nome de Cabo Verde.
Nada vem por acaso e todas estas responsabilidades maiores que temos agora são fruto do nosso esforço suor e trabalho, não caiu do céu custou a conquistar agora é manter humildes e com os pés no chão para continuar a dar passos seguros. Juntos ninguém tem força para nós “e pá nu cabas Co job“.
O que quero dizer com isto tudo é que do ponto de vista da justiça o Marco não merece estar no CAN e respeito e aceito, futebol é assim mesmo mas fiz tudo para poder ser útil só acho que merecia um pouco mais de respeito por aquilo que sou e represento no grupo e a minha tristeza vem daí e por não estar nos 30. Mas estou a apoiar a selecção a 100% e não vou estar presente na CAN apenas fisicamente. Triste sim é legítimo por todos nós que lutamos por algo na vida e não conseguimos alcançar o objectivo.
Desiludido sim por dar tudo de mim e não sentir retributo da parte contrária, mas é só uma CAN que vou perder a vida continua. Pior e mais tristeza sinto pelo nosso povo do Fogo que estão a perder tudo o que lutaram uma vida inteira (muita força e coragem pa tudo guentis de fogo) FORÇA CABO VERDE dodu na bo…com Deus nada devemos temer…”