Mário Semedo: “A UEFA, através da FPF, assegurava o salário de Rui Águas”

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O ex-presidente da Federação Cabo-verdiana de Futebol (FCF), Mário Semedo, decidiu romper o silencio para falar sobre o processo Rui Águas. Em entrevista ao jornal A Nação, Mário Semedo revelou que tudo começou com uma reunião em Lisboa entre a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e as federações de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe, na perspectiva de uma cooperação entre a UEFA, Portugal e os PALOP. “Como se sabe, a UEFA tem um programa de cooperação denominado ‘Meridien’, que já beneficiou Cabo Verde em vários aspectos, todos eles muito importantes. Por isso, aproveitamos essa oportunidade, para solicitar um encontro, no mês de Maio de 2014, com a direcção da FPF. Na reunião de Maio, ficou claro que a UEFA estaria disponível a apoiar as federações dos PALOP, via uma federação europeia, que, tendo em conta os laços existentes, obviamente seria Portugal”, frisou. Na mesma reunião a FCF deixou saber que Cabo Verde precisava de um seleccionador, depois da saída de Lúcio Antunes, e que caso houvesse uma parceria entre a federação portuguesa e a cabo-verdiana a escolha seria Rui Águas. Portugal prometeu analisar a questão, enquanto isso a FCF resolveu contactar Rui Águas “que já estava a fazer o seu trabalho de casa, mas sem qualquer compromisso”. As conversações foram retomadas em Julho do mesmo ano, sempre com a presença de Rui Águas, e “ficou acordado que Portugal iria avançar através do tal programa da UEFA”. Visto que já estava praticamente em cima da data para o arranque da fase de qualificação [para o CAN] decidiu-se avançar com a parceria, mesmo antes de um pronunciamento da UEFA. “Sempre com a presença de Rui Águas, a FPF deu o seu aval e avançámos e ficámos à espera da formalização desse protocolo, cujo primeiro draft nos foi enviado em Agosto ou Setembro”. Mário Semedo diz ainda que a direcção da FCF sempre falou com Rui Águas sobre a questão do contrato, que “era a nossa preocupação”, mas, numa base de “boa-fé e confiança recíproca, trabalhámos sempre e sem qualquer problema. Havia um ou outro problema no pagamento do salário, mas a FCF fez sempre um esforço no sentido de pagar a remuneração do seleccionador”. Semedo afirmou que antes da sua saída da direcção da FCF estava em andamento o contrato com o seleccionador, que não foi avante por causa dessa hesitação em relação à cooperação entre Portugal e a UEFA. “A UEFA, através da FPF, assegurava o salário do seleccionador, mas a parte cabo-verdiana assumia alguns custos, nomeadamente a renda de casa, porque Rui Águas não vi- nha só na qualidade de treinador. Tinha um projecto muito mais amplo da formação e da coordenação das selecções”, esclarece Mário Semedo. Este explica ainda que, na altura da passagem de dossiers à nova direcção da FCF, no dia 21 de Abril, “eu disse claramente ao actual presidente: ‘Temos este dossier, as coisas estão como estão por razões tais, mas é necessário ter algum cuidado na sua gestão, tendo em conta que se trata de um processo de cooperação e, muitas vezes, as coisas não correm como desejamos, não só em termos de conteúdo, mas também de velocidade’”. Mário Semedo agradeceu a Rui Águas por tudo o que ele fez para o futebol cabo-verdiano e disse que tal assunto não o tornou publico porque não era do seu feitio “trazer para a praça publica coisas que, do meu ponto de vista, são íntimas da organização”. Semedo que esteve 16 anos a frente da FCF fez o balanço da sua gestão enumerando as obras feitas pela sua direcção. Para terminar este admitiu que são os primeiros a aceitar que também falharam e que também erraram, “porque, se fosse hoje, não cometeríamos alguns erros cometidos no passado”, concluiu. Fonte: A Nação