Na II Conferência de Desporto Nacional, realizada na Cidade da Praia, nos dias 24 e 25 de Outubro de 2014, o tema mais em debate foi o financiamento do Desporto, apesar que curiosamente, não ter sido um dos temas agendados para debate.
Eis que será realizado em Mindelo nos dias 26 e 27 de Junho de 2015, a III Conferência de Desporto Nacional, o referido tema não consta da agenda para debate.
Este singelo trabalho, visa promover o debate e a reflexão, na busca de melhores soluções e de forma a desenhar e perspectivar o novo modelo.
Aceitamos este desafio pelo nosso Desporto, a luz do lema da II Conferência de Desporto Nacional, “reflectir o presente e projectar o futuro” e assentada também no lema da III Conferência de Desporto Nacional, Governança Desportiva.
O modelo de financiamento vigente assenta-se nos seguintes pilares:
Vamos analisar este modelo actual em maior detalhe:
As receitas referentes à maior parte dos espectáculos desportivos são cobrados e geridos pelos órgãos associativos. As receitas de bilheteira deixaram de ser a solução para os problemas de financiamento dos Clubes. Muitos jogos “abrem as portas” dos estádios, sem cobrar bilhete, mesmo assim, há cada vez menos assistência.
As cotas dos clubes não são a panaceia para os males dos clubes, não há a real contrapartida para os associados, tornando-se numa fonte de financiamento sem relevo para sustentabilidade financeira dos clubes.
Os efeitos práticos da aplicação lei do mecenato não atingiram o seu real objectivo, e são poucos mecenas engajados com os ganhos fiscais e ainda, não permite contrapartidas de nível comercial aos mecenas.
O modelo vigente está falido, os ventos de mudança de paradigma de financiamento dos Clubes desportivos urgem soprar nas nossas queridas ilhas e nos nossos amados Clubes.
Como consequência destas mudanças e da insustentabilidade do actual modelo, o modelo de financiamento dos Clubes desportivos é muito diferente e passou a assentar-se nos respectivos pilares:
Vamos analisar este novo modelo em maior detalhe.
No tocante ao marketing desportivo, mais concretamente, publicidade e merchandising, passou a ser as receitas “correntes” mais importantes no financiamento dos Clubes de futebol além fronteiras.
Os Clubes de futebol, além fronteiras, vivem das receitas das transmissões televisivas, e muitas delas já tem uma televisão exclusiva. Neste aspecto, ainda a nossa televisão pública -TCV, não tem a capacidade financeira e nem o suporte publicitário para garantir as tais transmissões das competições regionais e nacionais, mas há que repensar a WEB TV, a semelhança do que já acontece nas competições regionais na ilha de São Nicolau.
Mas os clubes não sobreviverão somente da publicidade nas camisolas e da publicidade estática e sonora. O merchandising através da venda de inúmeros e variadíssimos artigos com a marca do clube desportivo é praticamente inexistente, e ainda acrescenta-se que, as marcas não estão e nem são registadas, o que tem dado azo aos “ chinês” para ganharem alguns tostões.
Quanto ao mercado de capitais, não existem Clubes em Cabo Verde com capital aberto em Bolsa de Valores, sendo que essa decisão, implicaria outras medidas organizativas internas, como por exemplo no tocante a elaboração das demonstração financeiras e prestação de contas, que é incipiente e pouco transparente, o que não se coaduna com as mínimas exigências dos investidores e da Bolsa de Valores para permissão da abertura de capital.
Foi proposto por um dos participantes, a criação do Banco de Desporto, a semelhança do Banco da Cultura. Seria o Banco de Desporto, uma boa alternativa de financiamento para os Clubes? Não tem sido até agora para “Industria Cultural” e nem poderá ser para Industria Desportiva. Os enormes riscos inerentes aos investimentos no desporto nacional indiciam a presumível fixação de taxas de juros elevadas, factor relevante para decisão de opção desta fonte de financiamento.
Finalmente, quanto aos subsídios, estes assumem uma importância também crescente no financiamento dos Clubes, seja de forma “directa”, seja através da doação de terrenos pelas autarquias, para construção das diferentes infra-estruturas dos Clubes, e seja de forma “indirecta”, como por exemplo, através da distribuição de parte das receitas cobradas nos Impostos sobre Consumos Especiais –ICE, bem como, nos Impostos Especiais sobre os Jogos, Lei nº 117/V/99, de 28 Dezembro, que passados mais de quinze anos, deverá ser alvo de uma revisão, com vista a sua adequabilidade aos novos tempos.
Estamos crentes que os nossos decisores políticos reconhecem que as actividades dos Clubes são importantes para a sociedade, em termos de proporcionar práticas desportivas aos cidadãos, contribuindo para a minimização das despesas do orçamento geral do estado, com o combate ao consumo de drogas ou ao sedentarismo. De facto, o impacto do desporto na saúde da população é tão significativo que justificaria investimentos bem mais expressivos no Orçamento de Estado.
As evidentes diferenças de fontes de financiamento dos Clubes de futebol além fronteiras, é importante que os Clubes nacionais estejam atentos e desenvolvam uma estratégia a longo prazo para se adaptarem a estas novas realidades.
Dois caminhos evidentes se abrem aos Clubes. Por um lado, podem manter-se fiéis às formas de gestão e fontes de financiamento tradicionais. Consequentemente, verão que os seus adversários mais sagazes irão ultrapassá-los, mas em contrapartida manterão vivos os valores do associativismo. O outro caminho passa por evoluírem para a organização e profissionalização da gestão dos Clubes e assim atraírem investidores e anunciantes. Com a implementação do marketing desportivo obriga-os a caminhar neste mesmo sentido. Só assim, serão possíveis os Clubes melhorarem as suas prestações competitivas e almejar o desporto de alto rendimento.
Um adequado modelo financiamento dos Clubes só deverá ser montado em estreito alinhamento com a estratégia global do desporto nacional.
Há que fazer escolhas! E tomar decisões. Bem-haja o Desporto Nacional.
XI Mandamentos para “Agenda de Transformação” do Futebol cabo-verdiano, com Rui Evora (I a V) e Fernando Fermino (VI a XI):
- I) Organização e Gestão dos Clubes, visando a profissionalização efectiva;
- II) Organização e funcionamento de Associações Regionais;
III) Novo figurino de provas nacionais, nomeadamente, do Campeonato Nacional;
- IV) Instituição de provas nacionais para diferentes escalões de formação;
- V) Revisão e regulamentação da Lei de Mecenato;
- VI) Aposta séria e clara nos escalões de formação principalmente pelos clubes federados;
VII) Regulamentação interna das transferências dos atletas;
VIII) Implementar o marketing desportivo e merchandising;
- IX) Gestão profissional das infra-estruturas visando a auto sustentabilidade;
- X) Capacitação contínua dos agentes desportivos;
- XI) Regulamentação dos direitos de transmissão;
