O presidente da Associação dos Pilotos, Ricardo Abreu, afirmou ontem, quarta-feira, que o alerta de perigo de acidentes na aviação civil em Cabo Verde feito esta terça-feira, 11, no Parlamento, se enquadra nos alertas que são feitos a nível mundial.

Em conferência de imprensa convocada precisamente para “corrigir” a Inforpress e tranquilizar a sociedade civil por considerar que a sua afirmação foi dramatizada no texto escrito na sequência da sua audição parlamentar, Ricardo Abreu disse que o que foi dito foi um alerta sim, mas em vários sentidos não só a nível da tripulação e financeiro.
“Apelamos que as formações dos pilotos fossem vistas não só no prisma financeiro dado à situação actual da empresa, mas também de se levar em conta os riscos de aviação civil [no geral] e não os riscos de aviação civil em Cabo Verde”, disse para corrigir a Inforpress.
Entretanto, acrescentou que os riscos de aviação mundial fazem foco em termos do cansaço da tripulação e cita exemplos de sindicatos de outras paragens que também já fizeram alertas similares.
“IFALPA já enunciou, a BALPA também que são sindicatos de Europa e da América, assim como os sindicatos de Cabo Verde não deixam passar os riscos existentes dado ao cansaço das tripulações”, disse na conferência de imprensa.
Contudo negou que o alerta para os perigos de acidente de aviação tenha sido feito para alertar para perigos de acidentes em Cabo Verde, e única e exclusivamente devido ao cansaço da tripulação.
“Em Cabo Verde os pilotos têm a sua responsabilidade, são regulamentados e fiscalizados pela Agência de Aviação Civil, existem regras e normas a serem seguidas e são auditadas pela aeronáutica, seguindo os parâmetros internacionais e até foi referido um exemplo onde citei que já em Cabo Verde havia tido uma situação num acidente onde foi levado em consideração também o cansaço de Santo Antão e outros acontecimentos internacional”, contou.
Ricardo Abreu explicou que fez foco na questão da tripulação na medida em que existem pilotos em casa que poderiam estar a operar na frota internacional, aumentando o número para ajudar a empresa e diminuindo assim tais riscos que existem na aviação civil.
“Os riscos existem em qualquer aviação, em qualquer companhia e em qualquer país. Desde o embarque até ao desembarque dos passageiros esses riscos estão presentes. É da responsabilidade da aviação civil controlar, dos pilotos cumprirem com regulamento e é da alçada do sindicato manter alerta e mostrar foco nos pontos que é achado e tido como essencial”, realçou.
Ricardo Abreu afirma, entretanto, que a manchete da Inforpress um tanto que dramatiza o que realmente foi dito e foi discutido, acabando assim por “distorcer” o foco que existia na audição desta terça-feira.
Entretanto, eis o que foi dito pelo sindicalista na audição:
“Há que fazer enfase no que o Rogério disse [alusão ao representante do pessoal de cabine]. Infelizmente nós em Cabo Verde ainda temos um povo que ainda não é 100% sério porque ainda deixamos pequenas coisas falarem mais alto que valores e ainda temos vergonha de reconhecer os nossos erros do passado e continuamos a ter esses riscos”, disse.
“Já tivemos acidentes em Cabo Verde, perderam vidas, o acidente de Santo Antão, não é segredo. Tivemos aqui na Praia, tivemos vários incidentes e o de Santo Antão foi referenciado em 99 por cansaço da tripulação. Tinha sido uma tripulação que já havia vários dias a voar sem descanso e insistência para voo sair”, acrescentou.
“Porque, infelizmente, a única importância que se dá é o avião sair. Desde que avião saia não se importa como é que saiu. E continuamos hoje com o mesmo estilo na aviação. Vai constar na acta, não é? Então vai ficar gravado o que vou dizer agora. Se não mudarmos de uma forma séria a forma de fazer aviação, a forma de agirmos na sociedade, vamos voltar a ter acidentes em Cabo Verde, vamos voltar a perder vidas”, afirmou.
Surpresos com as afirmações do presidente da Associação dos Pilotos, alguns dos deputados presentes, inclusive, bateram na madeira como forma de esconjurar o mal, mas ele continuou: “Se não mudar, vai acontecer. Não estou a desejar, só estou a alertar”, disse, justificando que cerca de 75 por cento dos acidentes que acontecem na aviação poderiam ter sido evitados se o tripulante tivesse um descanso previsto.
Fonte: Inforpress