O primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, afirmou hoje no parlamento que a massificação da vacinação contra a covid-19, que deverá cobrir 70% da população até outubro, poderá ainda “salvar a época turística de inverno”.
“Estamos a caminhar num bom ritmo. Em três meses, 38% da população elegível [adulta] está vacinada a nível nacional. Mas é preciso acelerar, particularmente na ilha de Santiago, para podermos atingir os 70% de população elegível vacinada com pelo menos uma dose. De preferência [até] setembro ou outubro”, disse o chefe do Governo, na abertura do debate anual sobre o estado da Nação, na Assembleia Nacional, na Praia.
Segundo o chefe do Governo, “um conjunto de medidas vêm sendo tomadas para posicionar Cabo Verde como um destino turístico seguro do ponto de vista sanitário, desde o reforço dos serviços de saúde, à formação e certificação de operadores com selos de qualidade sanitária”.
Cabo Verde deixa hoje a situação de calamidade, passando aceitar certificados de vacinação contra a covid-19 no acesso a estádios de futebol, discotecas, bares, restaurantes, festas, eventos e viagens internacionais e domésticas, anunciou também o primeiro-ministro, condicionando a aceitação de certificados de países terceiros a acordos de reciprocidade.
Sobre o reforço do plano de vacinação, afirmou que estão a ser implementadas medidas “para aumentar o esforço de mobilização, sensibilização e de proximidade” nesse processo.
“É neste contexto que o país tem feito um bom combate. Cabo Verde tem conseguido gerir bem a covid-19, reduzindo o número de casos positivos de forma consistente nos últimos meses, protegendo as pessoas, as empresas, o emprego e o rendimento e cuidando dos mais vulneráveis”, apontou.
Acrescentou que o sistema de saúde do arquipélago “tem respondido bem”, em resultado dos “investimentos realizados e às medidas adotadas”.
“Mobilizamos vacinas e iniciamos há cerca de três meses a vacinação, que já atinge 38% da população. Há ilhas que já atingiram 70%. Há um conjunto de concelhos que já ultrapassou 50%”, apontou.
Desde março de 2020, o arquipélago já contabilizou 33.721 casos de covid-19, que provocaram 298 mortes por complicações associadas à doença, e 32.935 pessoas foram dadas como recuperadas.
No período crítico da pandemia no arquipélago, Cabo Verde registou uma taxa de incidência acumulada de covid-19 a 14 dias (um indicador utilizado internacionalmente) de 727 casos por cada 100.000 habitantes, de 26 de abril a 09 de maio, mas que desde então está em queda.
Ainda segundo dados da Direção Nacional de Saúde, nos últimos 14 dias, período de 12 a 25 de julho, Cabo Verde analisou 15.238 amostras, que comprovaram 565 casos novos de covid-19, correspondendo a uma taxa de positividade de 3,7%.
Cabo Verde vive uma profunda crise económica e social e registou em 2020 uma recessão económica histórica de 14,8% do PIB, quando antes da pandemia previa crescer mais de 6%.
Na revisão do Orçamento do Estado, concluída na quinta-feira, a previsão do crescimento esperado do PIB baixa para de 3,0% a 5,5%, quando antes estava previsto um intervalo de 6,8% a 8,5%, e é apontada uma quebra das receitas, pela ausência de turismo, de 12,2% face ao previsto no início do ano.
No discurso perante o parlamento, Ulisses Correia e Silva afirmou que no último ano, apesar da pandemia, “o país não parou e não tem estado parado”.
“O país está com melhor sistema e serviço de Saúde. Investimentos importantes foram realizados nos últimos anos, e estão em curso, com impacto na melhoria dos serviços de saúde às populações e no posicionamento de Cabo Verde como um destino turístico seguro do ponto de vista sanitário”, garantiu.
Acrescentou que foram realizados investimentos públicos “em todos os concelhos”, que “têm um impacto positivo na criação de condições para a desconcentração do turismo e de outras atividades económicas”.
“Estamos a falar de requalificação urbana e ambiental das cidades e das vilas, do restauro e reabilitação de património edificado, da valorização do património imaterial, da requalificação das orlas marítimas, de caminhos vicinais e desencravamento de localidades”, explicou.
Como exemplo apontou o Programa de Valorização Turística e Ambiental de Aldeias Rurais, com uma dotação inicial de 8,6 milhões de euros, “que vai entrar em fase de execução com o objetivo a qualificar localidades no meio rural com características orográficas, naturais e paisagísticas singulares e com potencial turístico”.
O arquipélago recebeu em 2019 um recorde de 819 mil turistas – setor que garante 25% do PIB -, mas essa procura caiu no ano seguinte, devido às restrições da pandemia de covid-19, cerca de 70%. Na revisão das previsões do Governo, Cabo Verde deverá receber este ano apenas cerca de 300 mil turistas, recuando a números de 2005.
O debate sobre o estado da Nação fecha habitualmente o ano parlamentar em Cabo Verde, antes do período de férias, sendo este o sexto em que participa Ulisses Correia e Silva como primeiro-ministro — o segundo consecutivo com a tónica nas consequências da pandemia – e o primeiro da nova legislatura, iniciada em maio.
Por: Lusa