Sede do PAIGC está cercada pela polícia que impede a saída ou entrada no edifício

A sede do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), que deve iniciar hoje o seu 9.º congresso, está cercada pela polícia, que impede a saída ou entrada no edifício, disse à Lusa o secretário nacional do partido, Aly Hijazi.

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O também presidente da comissão organizadora do congresso, previsto para decorrer entre hoje e até dia 04 de fevereiro, disse ainda que “a sede do partido está sequestrada”, tendo lá dentro mais de 200 pessoas, entre militantes e dirigentes.
 

Na segunda-feira, em conferência de imprensa, um responsável do comissariado-geral da Polícia de Ordem Pública (POP), o coronel Salvador Soares, disse aos jornalistas que os agentes iriam fazer cumprir com as orientações judiciais que mandam impedir a realização do congresso.

Segundo a POP, pelo menos três tribunais regionais emitiram providências cautelares a impedir a realização do congresso do PAIGC.

O partido tem outra interpretação e adianta que o ministério do Interior, que tutela a POP, recusou-se a receber uma nota de um tribunal que voltou atrás com a sua decisão de impedir o início do congresso.

O presidente da comissão organizadora do 9.º congresso do PAIGC, que deverá iniciar-se hoje à tarde, disse que, a partir das três da manhã, a polícia não deixou ninguém entrar ou sair da sede do partido, onde se encontravam alguns militantes nos preparativos.

“Estamos encurralados por todos os lados pelos elementos da policia”, declarou Aly Hijazi.

O responsável afirmou ainda que “pelo menos” 11 militantes foram agredidos pela polícia, por, alegadamente, terem entrado em discussão com os agentes.

O secretário nacional do PAIGC indicou que “para já” há água e luz elétrica da rede pública na sede, mas o problema, disse, é arranjar comida para mais de 200 pessoas, com a sede cercada pela polícia.

Aly Hijazi avançou que o líder do partido, Domingos Simões Pereira, que está fora da sede, tem-se desdobrado em contactos com os organismos internacionais, tanto os sedeados no país, como os do estrangeiro, para lhes explicar a situação e pedir apoio.

Na segunda-feira, o comissariado-geral da Polícia de Ordem Pública (POP) disse que não recebeu a ordem do tribunal que autoriza o congresso pelo que “a lei será cumprida”.

A POP diz que só poderá autorizar que o congresso tenha lugar se receber uma nova ordem do tribunal regional do norte, com sede em Bissorã.

Na mesma conferência de imprensa a POP informou aos jornalistas que recebeu “mais duas providencias cautelares”, uma de um tribunal de Buba, sul do país, e outra de Bafatá, leste da Guiné-Bissau, que ordenam a suspensão do congresso.

As três providencias cautelares teriam sido intentadas por militantes do PAIGC que se consideram excluídos injustamente das conferências de base que determinaram a escolha de delegados ao congresso.

Então questionado sobre se a polícia tenciona impedir a realização do congresso, o coronel Salvador Soares, do comissariado da POP, afirmou que os agentes “vão ter que cumprir com as decisões do tribunal”.

Também em conferência de imprensa, Carlos Pinto Pereira, um dos advogados do PAIGC, destacou na segunda-feira que o partido não tinha sido notificado sobre a existência de mais providencias cautelares, tirando a do tribunal regional do norte.

O advogado entende que nada impede a realização do congresso que terá como lema: “PAIGC unido na disciplina, pelos ideais ao serviço da paz e estabilidade e desenvolvimento da Guiné-Bissau”.

Polémicas judiciais a parte, quase todos os 1231 delegados ao congresso já se encontram em Bissau, bem como grande parte de partidos convidados.

De Portugal são esperadas as presenças delegações do PSD, PCP e PS, dos países africanos de língua oficial portuguesa, foram convidados os partidos que lideraram os processos de independências.

Até aqui, Domingos Simões Pereira é o único candidato à sua própria sucessão, embora não seja de excluir as candidaturas de outros militantes no decurso do congresso que está a marcar a atualidade política guineense.

Os ausentes da reunião serão os 15 deputados expulsos do partido em 2015 mas que, entretanto, foram readmitidos pela direção a tomar parte do congresso. Segundo o coordenador do também designado grupo dos 15, Braima Camará, está fora de questão a participação dos deputados no congresso sem que todos os militantes sancionados sejam também permitidos participar.

Um outro notável do PAIGC que não estará presente na reunião, pelo menos na qualidade de delegado, será Carlos Gomes Júnior, antigo primeiro-ministro e ex-líder do partido durante 12 anos.

Residente entre Portugal e Cabo Verde, desde que foi derrubado por um golpe militar, há cinco anos, Gomes Júnior regressou ao país na semana passada, tendo solicitado à direção do PAIGC que lhe seja permitido participar no congresso como delegado.

O pedido foi rejeitado.

O PAIGC pediu a presença de 150 soldados da força da Ecomib (contingente militar da África Ocidental) estacionada na Guiné-Bissau na sequência do golpe de Estado de 2012, para garantir a segurança durante o congresso.

Por: Lusa