Quatro velejadores brasileiros saíram de Natal, no Brasil, e chegaram a Cabo Verde no dia 22 de Agosto onde era apenas uma estadia passageira, conta o BBC Brasil.
![O capitão Olivier Thomas e os marinheiros Rodrigo Dantas, Daniel Danas e Daniel Guerra](https://ichef-1.bbci.co.uk/news/660/cpsprodpb/12A51/production/_99396367_ad8da8de-bda1-41d7-a0f9-9d6e873794a1.jpg)
Daniel Guerra, de 36 anos, Rodrigo Dantas, de 25 anos, Daniel Dantas, de 43 anos, e o capitão Olivier Thomas, foram presos em Cabo Verde. Os três primeiros são brasileiros enquanto que o quarto elemento é um francês.
A polícia diz ter recebido uma denúncia anónima e foi inspeccionar o veleiro Rich Harvest. Encontrou sob o assoalho, em um esconderijo coberto de cimento, mais de uma tonelada de cocaína – uma carga avaliada em aproximadamente 200 milhões de euros (cerca de R$ 800 milhões).
O capitão e Guerra foram presos em flagrante, porque estavam no barco. Desde então, estão encarcerados em Mindelo, na ilha de São Vicente.
Rodrigo e Daniel Dantas estavam em terra porque haviam sido demitidos – o primeiro porque teria discutido com o capitão e questionado as condições do barco para prosseguir viagem até Açores e, o segundo, porque teria passado mal durante a viagem toda e ajudado pouco.
Os que não foram presos em flagrante ganharam o direito de responder ao processo em liberdade. Foi o que fizeram por quatro meses, até que um juiz determinou, há alguns dias, que fossem presos por “risco de fuga”, entre outras alegações.
Os três brasileiros envolvidos no caso alegam inocência e afirmam desconhecer que estivessem transportando drogas.
Eles dizem, segundo a BBC Brasil, terem sido enganados por uma quadrilha internacional da qual faria parte o contratante da viagem, um inglês que se chamaria George Saul, de apelido Fox (raposa). Autoridades de Cabo Verde dizem que essa pessoa está na lista de procurados da Interpol.
Eles respondem à acusação do Ministério Público de Cabo Verde de “crime de tráfico de drogas de alto risco”. O órgão alega que o crime aconteceu desde o primeiro momento em que a droga começou a ser transportada. A pena pode chegar a até 20 anos de prisão, se for comprovada a associação ao tráfico.
Daniel Dantas relatou à família ter sofrido ameaça de morte “caso não confessasse o crime”, quando foi preso há alguns dias.
Sua irmã Barbara Dantas procurou a Embaixada do Brasil em Cabo Verde para pedir que ajudassem a preservar a integridade física do irmão. O Itamaraty confirma ter recebido o pedido e diz que deslocou um diplomata para checar a situação dos presos.
Os familiares dos três brasileiros reiteraram, em entrevista à BBC Brasil, o relato dos parentes sobre como teriam ido parar naquele barco. Também apresentaram atestados negativos de antecedentes criminais dos velejadores, assim como e-mails trocados com a empresa que os contratou, além de passagens e fotos.
Guerra, Rodrigo e Daniel Dantas, que não têm parentesco, dizem que foram alertados de uma vaga de trabalho como marinheiros pelo instrutor náutico Arturo Justicio, com quem tiveram aulas em Ilhabela, no litoral de São Paulo.
O professor viu um anúncio de seleção de tripulação no Brasil, para conduzir um veleiro até Açores. A oferta partiu da empresa holandesa The Yacht Company, que oferece “delivery” de embarcações, ou seja, contrata profissionais para levarem barcos de um lugar a outro pelo mundo. Justicio se lembrou dos alunos e encaminhou o anúncio.
A proposta parecia interessante, apesar de não haver remuneração.
A empresa oferecia passagens para as cidades de onde partiriam e de onde regressariam e alimentação. Em troca, além da experiência, os velejadores ganhariam milhas náuticas – com a soma destas, eles poderiam ir conquistando novas categorias de habilitação na Marinha.
Como os três brasileiros queriam ganhar a vida velejando e diziam precisar dessas milhas, se inscreveram e foram aceitos para o trabalho.
Guerra e Rodrigo foram os primeiros selecionados. Daniel Dantas só entrou na história, dizem, depois que uma terceira pessoa desistiu da viagem, quando o barco apresentou os primeiros problemas técnicos em Natal (RN).
Em Salvador, de onde o barco saiu no dia 29 de junho, Rodrigo e Guerra conheceram o contratante da viagem, o inglês de apelido Fox.
O pai de Rodrigo, João Dantas, diz que até levou o estrangeiro para almoçar, já que queria conhecê-lo melhor. Diz tê-lo achado “uma simpatia” e conta que ele assegurou que o barco estava em boas condições para viajar, o que, segundo os tripulantes, não seria verdade.
A embarcação teria apresentado os primeiros problemas ainda no Brasil e teria sido preciso ancorar em Natal para o conserto, que levaria quase um mês. O inglês Fox teria abandonado o grupo no dia 16/7, dizendo que voltaria para a Europa. No dia 24/7, eles zarparam rumo a Açores e teriam enfrentado durante viagem os problemas no barco.
O advogado Oswaldo Lopes Lima, contratado pelas famílias para defender os acusados, diz estar confiante na vitória dos clientes. Ele também afirma que o pedido de prisão novamente de Rodrigo e Daniel Dantas “não tem cabimento”, pois ambos se apresentavam semanalmente à Justiça e tinham passaportes retidos.
“Não há no processo nenhum fato que comprove a acusação do Ministério Público. Como pessoas de diferentes partes do Brasil receberam a dica de um trabalho, se inscreveram e conseguiram e foram viajar juntas? Temos as mensagens de todo esse processo. Outra coisa, como as pessoas que transportam uma carga de 200 milhões de euros não têm uma arma no barco? Também nas buscas não foi encontrado dinheiro. Como é possível? O dono do barco é procurado pela Interpol. Isso é um fato. A única prova que eles têm contra meus clientes é que eles estavam no barco”, diz à BBC.
Por: BBC Brasil