O dia amanheceu na Venezuela com um anúncio do Presidente interino Juan Guaidó no Twitter a pedir uma mobilização militar e popular contra Nicolás Maduro e anunciando a fase final da “Operação Liberdade”.
Desde então, manifestantes pró-Guaidó e pró-Maduro reuniram-se nas ruas de Caracas, com relatos de confrontos, tiros e gás lacrimogéneo em alguns locais. Há problemas com as comunicações no país. Vários países já se pronunciaram a favor e contra a mobilização de Guaidó, mas ainda não é certo quantos militares estão com o autoproclamado líder venezuelano, qual o paradeiro de Maduro ou se este dia poderá terminar de forma violenta.
Confira o que se sabe e o que falta saber sobre a situação na Venezuela.
O que se sabe
- O dia começou com uma mensagem no Twitter de Guaidó, às 5h46 (hora local, 10h46 em Lisboa), onde o autoproclamado Presidente se dirigia aos venezuelanos e pedia aos militares e aos civis que se mobilizassem pela democracia e se dirigissem à base aérea La Carlota.
- O opositor político do regime chavista, Leopoldo López, que se encontrava em prisão domiciliária, foi libertado ainda de manhã por militares próximos de Guaidó. Entretanto, deslocou-se na missão diplomática chilena, juntamente com a mulher e uma filha. Foi entretanto levado para a embaixada de Espanha em Caracas, onde deverá ficar como “hóspede”.
- Maduro reagiu horas depois, através do Twitter, pedindo “nervos de aço” e garantindo que todos os comandantes de todas as Regiões de Defesa Integral e de Zonas de Defesa Integral do país se mantêm leais ao regime. Mais tarde, depois de um longo silêncio, Maduro disse que a tentativa de golpe tinha sido derrotada e que 80% dos militares estão do seu lado. Além disso, nomeou um novo chefe das secretas, já que o anterior foi associado ao movimento de Juan Guaidó.
- Vários países anunciaram publicamente o seu apoio a Guaidó, mas pediram uma transição pacífica, entre eles Espanha, Colômbia, EUA, Brasil, Reino Unido, Perú, Panamá, Costa Rica, Chile, França, Alemanha, Itália e também Portugal. Outros países, como a Bolívia, a Rússia e a Turquia mantiveram o seu apoio a Maduro.
- Registaram-se confrontos entre a Guarda Nacional Bolivariana (GNB) e manifestantes pacíficos em vários pontos de Caracas. Os mais intensos terão sido perto da base militar de La Carlota, tomada por civis que responderam ao apelo de Guaidó. Aqui vários manifestantes terão sido inclusivamente atropelados por veículos da GNB e há relatos de tiros. Ao longo do dia, foram registado pelo menos 1 morto e 109 feridos.
- As comunicações locais, a internet e a emissão de órgãos de comunicação no país estão afetados.
- O metro de Caracas está encerrado e as companhias aéreas Air France e Iberia suspenderam os voos para a capital venezuelana.
- Guaidó discursou perante os seus apoiantes na praça de Altamira, no centro de Caracas. Afirmou que ficaria ali até os restantes militares se juntarem a si. Entretanto, durante a tarde, encabeçou a marcha que se dirigiu para “oeste de Caracas”, não sendo ainda certo se o Palácio de Miraflores, onde se concentram os apoiantes pró-Maduro, era o destino final. Contudo, a marcha foi travada por ação da Guarda Nacional Bolivariana, que utilizou gás lacrimogéneo.
- O conselheiro de segurança da Casa Branca John Bolton declarou que Vladimir Padrino, ministro da Defesa, Maikel Moreno, presidente do Supremo Tribunal, e Ivan Hernández, comandante da Guarda de Honra presidencial, teriam estado em negociações para a saída de Maduro, mas que terão recuado. Bolton tweetou inclusivamente uma mensagem para Padrino, Moreno e Hernández incitando-os a aceitar a amnistia oferecida por Guaidó e a abandonarem Maduro.
- O secretário de Estado norte-americano Mike Pompeo anunciou na noite desta terça-feira que Nicolás Maduro estava pronto a fugir da Venezuela para Cuba durante a manhã, mas que foi impedido pela Rússia, que o convenceu a ficar. O Kremlin reagiu, classificando a informação de mentira.
- Juan Guaidó publicou um vídeo no final do dia onde sublinhou que Maduro não tem o apoio das Forças Armadas e apelou à continuação da mobilização popular no 1.º de Maio.
O que falta saber
- Que militares (e quantos) estão com Guaidó? Relatos iniciais dariam conta de que um dos militares que liderava o movimento seria o lusodescendente José Ornella Ferreira, mas este terá desmentido tal informação no seu Twitter. Em Altamira foi possível ver alguns militares junto de Guaidó, mas seriam apenas algumas dezenas — 40, segundo o ABC. Não é certo se há outros homens com o autoproclamado Presidente interino. Ferreira, por exemplo, não fez qualquer vídeo a declarar lealdade a Guaidó ou a Maduro.
- Haverá um banho de sangue? É a pergunta que muitos fazem perante uma situação de tensão crescente. Se Guaidó e os seus apoiantes se dirigirem a Miraflores, ninguém sabe qual poderá ser a resposta do regime chavista. O ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, destacou que há relatos de que as forças do regime estão a “convocar e exortar” os colectivos, grupos armados de civis pró-regime, a agirem.
[Veja no vídeo como a Venezuela entrou em ebulição com tiros e avanço sobre civis]
Por: Observador





