O jornal português JOGO falou com Zé Luís, internacional cabo-verdiano que joga no Spartak de Moscovo. Um dos temas da conversa foram as dificuldades de adaptação à Rússia.
Esteve para fazer as malas e deixar a Rússia, sentiu-se perdido e questionou-se várias vezes. Durante ano e meio, Zé Luís sofreu sozinho por causa do salto que deu do Braga para o Spartak Moscovo. Mais do que mudar de clube, o avançado mudou de vida e a adaptação custou, até começar a perceber o russo.
O que foi mais difícil quando assinou pelo Spartak Moscovo?
-Foi a língua, o frio, a cultura. Foi um choque. Passados uns dias, queria ir embora. Nunca fui uma pessoa de se acomodar no conforto, porque vim de baixo. Pensei que tinha de ficar, suportar o frio, o trânsito que é incrível, a língua, porque não falava nada, nem o inglês…
Houve uma grande mudança…
-É muita coisa junta para resolver. Foi um primeiro ano muito sofrido, chorava quase todos os dias em casa. Perguntava-me muitas vezes o que é que estava a fazer aqui. A vontade de desistir e voltar era muita. Cresci com essas dificuldades. Fiquei mais frio, agora é mais difícil chorar [risos], depois de um ano a chorar… Acho que congelei um bocado [risos], é da temperatura, mas sinto-me mais forte psicologicamente. Resolvo problemas sem entrar em pânico, consigo encarar dificuldades de frente, cresci como homem aqui.
O futebol na Rússia também é diferente?
-É agressivo, tanto física como psicologicamente. Estamos sempre a viajar. Fazemos um jogo em casa e vamos logo apanhar um avião. Quando cheguei, apanhei uma equipa na Taça da Rússia, que nos fez viajar 10 horas para cada lado. Voltámos no mesmo dia. Em dois dias fiz 20 horas de voo. Mas nem foi o mais distante, porque podia ter calhado fazer 11 ou 12 horas de voo com outros adversários.
A partir de que altura se começou a sentir mais confortável?
-Quando comecei a entender a língua tornou-se mais fácil. Embora falar seja quase impossível.
Por: O Jogo