O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, considerou hoje que África “está refém” da invasão russa da Ucrânia e isso provoca fortes tensões no mercado de cereais para exportação para o continente.

“África é refém daqueles que começaram a guerra contra o nosso Estado”, disse Zelensky, num discurso por videoconferência dirigido aos membros da União Africana.

O líder ucraniano acrescentou que a crise alimentar mundial “durará tanto quanto a guerra” provocada pela invasão russa.

Segundo Zelensky, a guerra “pode parecer distante” para os países africanos.

No entanto, o “aumento catastrófico” dos preços dos alimentos atingiu milhares de famílias africanas, assim como outras partes do mundo, como Ásia, Europa e América Latina, avançou.

O Presidente ucraniano expôs os fatores que na sua opinião prejudicam especialmente África, como a crise económica após a pandemia ou a falta de recursos financeiros.

“Dada a escassez física no mercado mundial, alguns países do continente africano estão a encontrar dificuldades para manter o abastecimento de alimentos”, afirmou.

A este respeito, referiu-se às “complexas” negociações em curso para desbloquear os portos ucranianos e indicou que “ainda não há progresso porque não foi encontrada nenhuma ferramenta real para garantir que a Rússia não ataque novamente” a Ucrânia.

“Negociações difíceis” estão em curso para desbloquear os portos ucranianos, onde milhões de toneladas de grãos não podem ser exportados para África devido ao bloqueio da frota russa no mar Negro, detalhou.

“Quero que nos entendamos completamente e interajamos sem intermediários, para os nossos interesses comuns”, adiantou Zelensky, enfatizando a necessidade de desenvolver um “diálogo interparlamentar” com os países africanos.

“Para isso, estou a iniciar visitas a países africanos de representantes do Verkhovna Rada – Parlamento da Ucrânia. Convido-os a visitar o nosso país agora para renovar os nossos laços bilaterais. E proponho começar a preparar, a nosso pedido, uma grande conferência política e económica entre a Ucrânia e a África”, concluiu.

A Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro e o conflito já matou mais de quatro mil civis, segundo a ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.

A invasão causou a fuga de mais de oito milhões de pessoas, das quais mais de 6,6 milhões para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.

Por: Lusa